domingo, 25 de julho de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

Here by Me (tradução)

Tempestade...



Este arrastar de pés na lama que me prende
na liberdade das palavras
que rasgam a minha pele
sem pudor de magoar, porque as conheço de cor…
Não choro por cansaço, nem sinto no teu abraço
afastar o meu degredo, esse é o teu segredo…
Não ouves as minhas lágrimas?
Dói-me aqui, cá dentro de mim…
Lavo-me sem pudor, no pudor das minhas letras,
das tuas letras, obsoletas como eu
porque as sinto, porque arrastam a minha dor
ainda mais além do outro que morreu
Não, não choro de cansaço!
Não é cansaço não querer ver,
apenas esta mágoa, o perceber…
(Há muito percorro a estrada sozinha
por isso te compreendo…)
Ninguém entende! Ninguém me entende!
Não quero ser apenas alguém,
não quero ser apenas mais ninguém
nesse mundo de fantasia que emerge
como erva daninha por entre os dedos que tocam
nas teclas desse piano, sem vida….
Não, não quero ser mais uma amiga!
Escuta, escuta os meus olhos,
não vês que sofro amor, que sofro nessa dor?
Tão complexa a minha alma?
Porque caminho no meio da tempestade,
mantenho a calma
neste arrastar de pés na lama que me prende
na liberdade das palavras
que rasgam a minha pele,
sem pudor de magoar, porque as conheço de cor…
Mas quero-te, quero-te deste meu louco querer,
por isso me dispo de mim e visto-me de ti,
entrego-te esta parte,
desvendo-te os meus segredos sem tocar com os meus dedos
nos teus,
não vês que tenho medos?
Não quero ser apenas alguém,
não quero ser apenas mais ninguém
nesse mundo de fantasia que emerge
entre nós….

sexta-feira, 23 de julho de 2010

... se ao menos ...


Se ao menos soubesses tudo o que eu não disse

Se ao menos soubesses tudo o que eu não disse
ou se ao menos me desses as mãos como quem beija
e não partisses, assim, empurrando o vento
com o coração aflito, sufocado de segredos;
se ao menos percebesses que eram nossos
todos os bancos de todos os jardins;
se ao menos guardasses nos teus gestos essa bandeira de lirismo
que ambos empunhamos na cidade clandestina
Quando as manhas cheiravam a óleo e a flores
e o inverno espreitava ainda nas esquinas como uma criança tremendo;
se ao menos tivesses levado as minhas mãos para tocar os teus dedos
para guardar o teu corpo;
se ao menos tivesses quebrado o riso frio dos espelhos
onde o teu rosto se esconde no meu rosto
e a minha boca lembra a tua despedida,
talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer
essa cor perdida nos teus olhos.

António Gedeão

Flores nas mãos da Maria


Há dias assim, em que me apetece escrever, sem “rumo”, sem “tema”, escrever por escrever…nestes dias sento-me em frente deste pequeno ecrã do meu portátil e tal como se estivesse a compor livremente nas teclas de um piano, escrevo… não sei para quem, nem porquê, nem o quê, simplesmente escrevo… palavras, palavras soltas, que vão construindo frases que nem leio, apenas escrevo, logo se vê... logo se lê… não me apetece sequer pensar o que escrevo, porque escrevo, apenas escrevo….
O som dos meus dedos, no teclado, fascina-me, atraí-me, não consigo deixar de o fazer, e escrevo…. presa nessa som... presos os meus dedos… não consigo ouvir mais nada, não penso em mais nada, apenas escrevo, assim, como estou a fazer agora… coisas de quem não tem mais nada que fazer? Não! Fascina-me ver a página cheia de letras que se unem e formam palavras, que se unem e formam frases, que se unem e formam um texto…
Há pessoas que gostam de ouvir música, ver televisão, ler, dançar, conversar, passear… eu gosto de escrever… mas também ouço música, adoro ouvir música e também leio, também vejo, por vezes, televisão, e adoro dançar... adoro dançar… e conversar... e passear… mas, se me perguntarem hoje, agora, do que gosto mais, responderei sem sombra de dúvida, que é deste som, o som dos meus dedos no teclado... no silêncio da sala, ignoro a solidão… ignoro o barulho dos carros que passam lá fora… ignoro o cansaço do final de outro dia de trabalho… ignoro os meus problemas… ignoro o anoitecer… ignoro o mundo… ignoro que estou “sozinha”, porque não estou sozinha no som dos meus dedos no teclado….
Acho que se escrevesse “à mão”, não era a mesma coisa… tenho a certeza que não era a mesma coisa porque preciso ouvir o som dos meus dedos no teclado, preciso sentir-me no ecrã… olhar-me de frente… olhar de frente para o texto... vê-lo crescer… apesar de poder não ter qualquer sentido, vê-lo crescer é como pintar uma aguarela… poderia ser uma tela, mas eu gosto mais dos tons suaves provocados pela técnica da aguarela, por isso vê-lo crescer é como pintar uma aguarela…
Não, não sou louca… não estou louca… porque haveria de estar louca? Porque simplesmente gosto de escrever assim... escrever sem “rumo”, sem “tema”, nesta liberdade que sinto total... porque simplesmente não me sinto sozinha quando me acompanha o som que os meus dedos fazem no teclado…
Hoje apetece-me escrever assim... “soltar” palavras... soltar apenas as palavras sem um fio condutor, antecipado... apetece-me olha-las gravadas no “papel”… sem intenção ou destino... quase como uma forma de sublimar o facto de te não poder sentir... de te não poder abraçar... de te não poder beijar... estar contigo…
Tenho “sede” de ti... sede de te ouvir, de te falar, de partilhar alguns momentos contigo... poucos minutos que fossem…
Não porque me sinta assim tão triste ou porque o “silêncio” enche a minha sala, não fosse o facto do ruído do bater no teclado… por opção minha... não me apetece ver ou ouvir a televisão... sempre as mesmas notícias, sempre as mesmas novelas, sempre os mesmos anúncios…
E as cassetes que tenho na aparelhagem. e que já ouvi tantas e repetidas vezes, não me apetece “trocá-las”.... não me apetece levantar desta cadeira, sair de perto desta mesa, da minha mesa, procurar, escolher outras…
Por isso vou escrevendo, libertando esta tensão, nos gestos repetidos no teclado, de uma forma contínua sem grandes pensamentos, deixando fluir a escrita como sai… de uma forma simples... descomplicada…
Também me apetecia dizer-te que te amo, que penso em ti, que te sinto a falta…. que me fazes falta…
Também me apetecia acender um cigarro, mas já não fumo... consegui finalmente cumprir a minha promessa.... apesar de achar que não faz sentido falar no cumprimento de uma promessa porque deixei de o fazer de uma forma demasiado “natural”.... não houve sacrifício.... simplesmente deixou de me apetecer fumar.... assim...
Ficarias contente se soubesses que já não fumo... tenho a certeza... a certeza absoluta....
E por tudo isto vou escrevendo… uma forma de estar comigo... uma forma de estar contigo... uma forma de estar com os outros.....