sexta-feira, 6 de julho de 2012

dizer-te: Adeus!

Corre nas minhas veias o teu sangue e algumas recordações, de infância principalmente, numa espécie de filme retroativo de imagens sumidas pelo tempo em que já me é difícil identificar cheiros ou palavras ditas na pressa de quem nunca teve tempo, e que do tempo e pelo tempo já me é difícil distinguir as dores ou as alegrias, mas sinto os olhos queimarem de lágrimas contidas porque me sinto tão perdida que nem sei deva, se quero, se possa ter….

Mas sinto que gostaria de pelo menos poder agarrar a tua mão e dizer-te que apesar de tudo, existe algo que nos liga, e pelo que hoje sei da vida e pelo que já vivi, e porque não quero falar-te agora de perdão, tranquilizar-te de que a minha dor já atenuou há muito…

Talvez o facto de saber de que não me é possível fazê-lo porque a vida não para, e porque tenho e sempre tive esta outra vida de que não fazes parte, nem nunca fizeste, e ainda, sinceramente, o facto de nem ter certezas absolutas se queria mesmo estar ai, porque é tão mais fácil guardar outras imagens de ti que não esta de estares à beira do fim, deixam-me nesta angústia, nesta incerteza de tantos sentimentos em que me perco e me sinto perdida…

Acho que sempre me senti perdida no meio desta tão grande teia em que me envolveste, que eu nem sei como nem quando, nem o que sentiste, nem mesmo se alguma vez consegui saber ou perceber o que senti eu…

Por isso acho que nunca te disse adeus, nem sei se olhei para trás e talvez mesmo por isso não te queira também dizer agora adeus de uma forma mais próxima….

Quero, no entanto, reafirmar-te que não me és nem nunca me foste indiferente, por isso podes ter a certeza de que também nunca o serás, porque há imagens, memórias, recordação que nunca esqueci, pequenas coisas que me foram mantendo sempre, sempre ligada a ti ao longo de todos estes anos, principalmente na infância e na adolescência… os gelados e os chocolates que me levavas, tantas vezes às escondidas, quando trabalhaste na "Rajá"
 …. as moedas estrangeiras e os frascos de perfume quase vazios que fui colecionando ao longo dos anos em que trabalhaste no hotel…. um par de brincos, que ainda hoje só uso em ocasiões especiais… e tantas outras coisas que sei não me foram dadas, nem nunca foram recebidas, de uma forma isenta de sentimento….. ….o som dos fados que sempre gostastes de ouvir…. lembro-me principalmente da “Casa da Mariquinhas”…. e de todos os vídeos “de animais” de que gostavas tanto e que passavas horas e horas a ver….

Sei que está mesmo quase, quase, porque falei ainda há pouco com a enfermeira que me informou ser talvez uma questão de horas….

Decidi, por isso, escrever-te e dedicar-te esta fotografia, porque acredito que há coisas que ultrapassam o nosso entendimento e por isso acredito que vais saber que o fiz e vais entender, perceber, nesta forma de mensagem o seu significado….

Não queria que fosse apenas assim, não queria que tivesse sido assim, não queria mesmo!

Desejo-te paz, que o caminho que ainda vais percorrer esteja coberto de LUZ, beijo….



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

quem foi que disse?

Quem disse que o céu é azul
e de verde se cobre a paisagem
e que a água do mar é salgada
e branca e de espuma são as ondas?
Quem disse que a rosa se veste de vermelho e tantas outras
e que o malmequer é branco e amarelo
e que o som dos pássaros é belo
e que o grito da águia trespassa a montanha na procura,
na procura de companheira?
E que a lua,
que a lua é nova e é cheia, e cheia de quartos também,
e que a lua cheia, é cheia de olhares e versos,
de palavras, gritos e gestos e risos e galanteios,
e promessas,
promessas de amor e momentos de paixão e ainda de solidão
e de enterro de passados, e compromissos de futuro,
e mais troca de olhares e versos,
palavras, gritos e gestos, e lágrimas e gratidão...
Quem foi que disse,
quem foi?
É que eu não vejo o céu azul,
nem azul, nem branco ou preto, nem cor nenhuma,não vejo,
nem o verde da paisagem, nem vejo o cheiro do mar,
nem sinto na pele qualquer imagem,
nem rosa branca ou vermelha, nem montanha, nem grito de águia,
e se a lua passou por mim não dei conta,
não dei conta das palavras, dos versos, dos gestos,dos gritos das gargalhadas...
Não dei conta da viagem!

Sei que voei, que voei e fui ao sol, e cantei às estrelas, e dei cambalhotas no ar,
e não fui corpo, nem alma, não fui palavra, nem promessa, nem grito de águia, nem verso, nem gargalhada, nem gesto, nem lágrima, nem gratidão,nem galanteio ou solidão.
Não fui nada! Mas, nesse nada fui tudo, tudo!...

Quem foi que disse?