Encontrei este artigo na net, por mero acaso, datado de Maio de 2007 e escrito por alguém que assina como JAS.... despertou-me a atenção e li-o com interesse, já que, reconheço ser, desde sempre, uma pessoa "ciumenta"...
Efectivamente revejo-me no "medo de perdermos o amor... de quem gostamos", seja esse "de quem gostamos" alguém como um amigo, um filho, um namorado,... o objecto da nossa afeição..... o sentimento desse "medo"("medo da perda") leva-nos, na maior parte das vezes, a manifestar atitutes exacerbadas perante (as) diversas situações, consideradas, normalmente, despropositadas "pelo outro" (objecto do nosso ciúme), que penso terem muito de irracional e de impulsivo... mas, sendo o ciúme um sentimento que causa inquitação, dor, sofrimento... não é de todo algo que tenhamos vontade de perpetuar... para quem já experienciou uma perda efectiva de afeição não será fácil, de certo, ultrapassar este tipo de atitude... há que reaprender a ter confiança em si próprio e no outro... há que aceitar a dúvida, a incerteza, como algo intrínseco à própria vida... no fundo, há que reaprender a viver...
"Faz bem ou faz mal ter ciúmes? O ciúme é saudável ou doentio? Quais as vantagens e desvantagens de ser ciumento?
Ao contrário do que normalmente se pensa, o ciúme não é uma criação ‘dos humanos’.
O Paco (que é o meu cão, de quem já aqui falei) é terrivelmente ciumento. Se vê alguém de quem gosta abraçar ou beijar alguém, perde positivamente a cabeça: começa a ladrar furiosamente e põe-se em pé, procurando separar as pessoas. Tem, além disso, terríveis ciúmes das crianças, pois percebe que elas lhe roubam a atenção e o carinho dos adultos.
E contam-se outras histórias, essas dramáticas. Como a de um cão que matou um bebé por não suportar ter deixado de ser o centro das atenções dos donos da casa.
O ciúme, além de não ser um exclusivo da natureza humana, também não se verifica apenas entre os amantes – seja entre pessoas de sexos diferentes, no caso dos heterossexuais, ou do mesmo sexo, no caso dos homossexuais. O ciúme verifica-se entre amigos e amigas, entre pais e filhos.
Quantas vezes, sem o assumirmos, sentimos ciúmes de um amigo de um nosso amigo, que nos disputa o seu convívio? E que outra coisa é senão ciúme a tradicionalmente difícil convivência entre mulheres e sogras?
O ciúme está associado ao medo de perdermos o amor ou a atenção de um ser de quem gostamos. Todos gostamos de ser amados. Se calhar, a secreta ambição de todos nós é sermos deuses – sermos adorados como os deuses. Quando sucede o contrário, quando antevemos o risco de perder alguém que amamos, de perder um amigo ou um amante, nasce o ciúme.
Por significar o receio de uma perda, o ciúme é tanto mais forte quanto maior se apresentar a perda. Dito de outra maneira, quanto mais gostamos de uma pessoa mais medo temos de a perder – e, por isso, mais ciúmes temos dela. Se estamos apaixonados, o receio de perdermos o objecto da nossa paixão é enorme – e qualquer ameaça que surja no horizonte, por mais remota que se apresente, ganha uma exagerada dimensão.
É por isso que se mata por ciúme.
Sendo O ciúme um sentimento natural, só é doentio na medida em que é desequilibrado relativamente à situação a que se refere. E isto tem uma razão de ser: os apaixonados tendem a idealizar o objecto da paixão. Não vêem a outra pessoa objectivamente, tal como os outros a vêem: vêem-na como um ideal. Vêem-na com uma aura. E, vendo assim o objecto da sua paixão, pensam que os outros o vêem do mesmo modo.
Achando muito desejável a pessoa amada, pensam que os outros a desejam com a mesma intensidade. Achando adorável a pessoa amada, pensam que os outros a adoram com o mesmo enlevo. Achando invulgarmente inteligente a pessoa amada, pensam que os outros lhe reconhecem a mesma inteligência.
Ora, o facto de os enamorados idealizarem a pessoa amada leva a que nos casos de verdadeira paixão o ciúme assuma proporções insuportáveis. E por isso encaram os pretensos ‘concorrentes’ como inimigos. Num olhar, num gesto, numa troca de palavras, vêem intenções reservadas, descobrem ameaças – e sofrem horrores.
A paixão cega-os, incendeia-os. Acreditando que ali está a sua razão de viver, fazem tudo para não a perder. E dispõem-se a eliminar as ameaças.
Não sendo bom, o ciúme é indissociável do amor e da paixão – e não seria possível a vida caso um e outro não existissem.
Felizmente os ciúmes têm um tempo – como as paixões também duram um tempo. Se os ciúmes e as paixões durassem a vida inteira, muita gente morreria de amor.
E os ciúmes esmorecem, tal como as paixões esmorecem, porque o tempo muda a maneira como vemos os outros. A quem não aconteceu achar uma pessoa o ser mais encantador do mundo, mais desejável do mundo, e um tempo depois encontrá-la na rua e achá-la vulgar, banal, igual às outras? Sentimos que houve um encantamento que se quebrou, um efeito de deslumbramento que se esfumou.
É certo que há excepções. Há uns anos, num debate a propósito de um romance meu, depois de eu ter afirmado que a paixão tinha um tempo de duração, uma senhora com óptimo aspecto mas já na idade madura disse-me da plateia:
- Isso não é verdade. Estou casada há trinta e cinco anos e continuo apaixonada pelo meu marido.
Felicitei-a. Mas adiantei que o caso dela era invulgar. Nas relações estáveis, a paixão dá normalmente lugar a outro tipo de sentimentos, menos arrebatados. E arrisquei que a paixão poderia mais facilmente prolongar-se em relações não consumadas, platónicas, em que o desejo não se realiza completamente e por isso perdura.
Voltou a contrariar-me. Numa voz firme, declarou:
– Numa relação não consumada sexualmente não pode haver paixão. Só existe paixão se existir consumação. Numa relação platónica o que pode existir é deslumbramento.
Paixão ou deslumbramento, uma coisa é certa: nas relações platónicas como nas não platónicas, nas amizades como nas ligações entre pais e filhos, o ciúme existe.
Quando o meu cão se intromete entre mim e alguém que abraço, sinto a medida do sentimento que tem por mim. E sei que esse sentimento é genuíno, que lhe vem de dentro, da sua natureza animal.
O cão tem ciúmes porque sente instintivamente que o amor que o dono tem por ele pode estar em perigo. Nós temos ciúmes porque sentimos que pode estar em perigo o amor de alguém que para nós é importante. Ora não será isto natural?"
um interessante texto sem duvida, bjitos.
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